sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Não que fizesse revelações. A história de como Serra tornou-se candidato em 2002, por exemplo, era conhecida. Mas não havia sido contada por FHC ou outra autoridade peessedebista: a “tensão” entre os pré-candidatos do governismo de então, o modo como Serra se impôs sobre eles, sua vitória “inconvincente”. Diz FHC que seu “candidato natural” seria Mário Covas, se a fatalidade não o tivesse levado um ano antes. Serra foi apenas quem sobrou (depois de eliminar seus concorrentes), mas não conseguiu “convencer” o eleitorado. Ou seja, a vitória de Lula – e o início do ciclo petista no Planalto, que não dá sinais de que terminará em 2014 – nada tem a ver com o julgamento desfavorável de seu governo. A culpa é de Serra. Leia também: Perplexidade mongol O voto em lista fechada Workaholics de todo o mundo, uni-vos! Como é ele, também, a explicação da derrota em 2010. Sua “arrogância” o impediu de formar alianças, seu “isolamento” o levou a conduzir uma campanha onde “erros enormes” foram cometidos. Perguntado se teria sido possível ao PSDB vencer Dilma, apesar do endosso de Lula, disse que sim. Desde que o candidato não fosse Serra. O fascinante na formulação é que ele nunca se considera responsável pelo que faz o partido que preside. O presidente da República era ele em 2002, mas, como estava “cansado de exercer a liderança política” – e “não apenas por generosidade” –, resolveu lavar as mãos. Em 2010, achava que Serra não era a melhor opção, mas ficou quieto (ou não conseguiu fazer nada para impedi-lo de, outra vez, se arrogar o direito de ser candidato). Essa liderança que não lidera conflita com a autoimagem que tem. Sem qualquer modéstia – e pouca visão da realidade –, FHC acha que ele e Lula são “os dois únicos líderes” brasileiros dos “últimos 20 anos” (o que entende ser pouco para “um país tão grande”). Como se houvesse qualquer semelhança entre as trajetórias de ambos: sem três ou quatro acidentes (a morte de Tancredo, o fracasso de Sarney, o impeachment de Collor, o desaparecimento de Covas), FHC não existiria (ou seria muito menor do que é), enquanto Lula continuaria a ser Lula, pois não precisou do acaso – e nem de um Plano Real – para chegar aonde chegou. Fernando Henrique diz que o PSDB tem de “reorganizar a hierarquia da liderança” (o que, em tucanês, quer dizer definir quem manda no partido), pois ninguém surgiu para ocupar o lugar que tinha. Quanto a si mesmo, explica que “tomou a decisão (…) de abrir espaço”, pois, na altura da vida em que está, “perdeu a vontade” de liderar. A entrevista reflete o clima em que vive o PSDB. Seu presidente de honra divide, em vez de somar. É magnânimo na repartição das responsabilidades pelas derrotas, mas avaro na reivindicação dos sucessos. Acredita que cabem (somente) a Serra as culpas pelas decepções recentes. Parece ter de Geraldo Alckmin uma opinião nada elevada, nem ao menos o considerando um ator na próxima sucessão presidencial. Quanto a Aécio, foi enfático ao dizer que é o “candidato óbvio” do PSDB em 2014, mas, perguntado se teria condições de ganhar, tergiversou. Repetiu a trivialidade de que ele tem “algum apoio” em Minas, mas que será obrigado a brigar com Serra para se tornar candidato. Não disse sim, nem sequer que poderia vencer. Com lideranças desse tipo, é impossível que um partido esteja bem.Não que fizesse revelações. A história de como Serra tornou-se candidato em 2002, por exemplo, era conhecida. Mas não havia sido contada por FHC ou outra autoridade peessedebista: a “tensão” entre os pré-candidatos do governismo de então, o modo como Serra se impôs sobre eles, sua vitória “inconvincente”. Diz FHC que seu “candidato natural” seria Mário Covas, se a fatalidade não o tivesse levado um ano antes. Serra foi apenas quem sobrou (depois de eliminar seus concorrentes), mas não conseguiu “convencer” o eleitorado. Ou seja, a vitória de Lula – e o início do ciclo petista no Planalto, que não dá sinais de que terminará em 2014 – nada tem a ver com o julgamento desfavorável de seu governo. A culpa é de Serra. Leia também: Perplexidade mongol O voto em lista fechada Workaholics de todo o mundo, uni-vos! Como é ele, também, a explicação da derrota em 2010. Sua “arrogância” o impediu de formar alianças, seu “isolamento” o levou a conduzir uma campanha onde “erros enormes” foram cometidos. Perguntado se teria sido possível ao PSDB vencer Dilma, apesar do endosso de Lula, disse que sim. Desde que o candidato não fosse Serra. O fascinante na formulação é que ele nunca se considera responsável pelo que faz o partido que preside. O presidente da República era ele em 2002, mas, como estava “cansado de exercer a liderança política” – e “não apenas por generosidade” –, resolveu lavar as mãos. Em 2010, achava que Serra não era a melhor opção, mas ficou quieto (ou não conseguiu fazer nada para impedi-lo de, outra vez, se arrogar o direito de ser candidato). Essa liderança que não lidera conflita com a autoimagem que tem. Sem qualquer modéstia – e pouca visão da realidade –, FHC acha que ele e Lula são “os dois únicos líderes” brasileiros dos “últimos 20 anos” (o que entende ser pouco para “um país tão grande”). Como se houvesse qualquer semelhança entre as trajetórias de ambos: sem três ou quatro acidentes (a morte de Tancredo, o fracasso de Sarney, o impeachment de Collor, o desaparecimento de Covas), FHC não existiria (ou seria muito menor do que é), enquanto Lula continuaria a ser Lula, pois não precisou do acaso – e nem de um Plano Real – para chegar aonde chegou. Fernando Henrique diz que o PSDB tem de “reorganizar a hierarquia da liderança” (o que, em tucanês, quer dizer definir quem manda no partido), pois ninguém surgiu para ocupar o lugar que tinha. Quanto a si mesmo, explica que “tomou a decisão (…) de abrir espaço”, pois, na altura da vida em que está, “perdeu a vontade” de liderar. A entrevista reflete o clima em que vive o PSDB. Seu presidente de honra divide, em vez de somar. É magnânimo na repartição das responsabilidades pelas derrotas, mas avaro na reivindicação dos sucessos. Acredita que cabem (somente) a Serra as culpas pelas decepções recentes. Parece ter de Geraldo Alckmin uma opinião nada elevada, nem ao menos o considerando um ator na próxima sucessão presidencial. Quanto a Aécio, foi enfático ao dizer que é o “candidato óbvio” do PSDB em 2014, mas, perguntado se teria condições de ganhar, tergiversou. Repetiu a trivialidade de que ele tem “algum apoio” em Minas, mas que será obrigado a brigar com Serra para se tornar candidato. Não disse sim, nem sequer que poderia vencer. Com lideranças desse tipo, é impossível que um partido esteja bem.

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